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O futuro da Previdência

A proposta de criar um sistema de capitalização da previdência para as novas gerações é um passo no escuro. Na verdade, não tão escuro assim, temos o exemplo do Chile, de onde o atual governo se orgulha em copiar, coisa que nem os chilenos se orgulham. Eles já admitiram que o sistema quebrou e deixou milhões de idosos na pobreza extrema. Hoje o maior número de suicídio entre idosos no mundo, é no Chile. Oras, mas como isso vai funcionar?

Simples, cada trabalhador que entrar no sistema depois da reforma, terá que fazer uma “poupança” própria. Não tem mais participação do empregador, somente o trabalhador arrecada. Esse fundo de previdência será gerido pelos bancos, que usarão o dinheiro no mercado financeiro. Quando esse trabalhador se aposentar, recebe de volta o que depositou, corrigido e tal. A princípio parece inofensivo e justo. Mas vamos aos detalhes. Primeiro, se o banco quebrar? Como já aconteceu em muitos lugares. O trabalhador não tem para onde recorrer. Segundo, se eu arrecadar parte do meu salário por uns quarenta anos, o valor será equivalente aos gastos em uns dez anos. Se eu me aposentar com sessenta e cinco, terei dinheiro até os setenta e cinco, oitenta no máximo. E depois, quando a “poupança” acabar? Acabou.


Outra coisa que o governo não pensou foi sobre o atual sistema. Se os novos trabalhadores passarem a depositar exclusivamente no fundo de previdência, quem vai contribuir com o INSS atual? Como a previdência pagará os atuais trabalhadores que continuarão no atual sistema? O governo simplesmente disse que isso é um problema que o congresso terá que resolver. Literalmente querem tirar dinheiro da previdência pública e dar aos banqueiros.


Até mesmo nos EUA, meca dos liberais, a previdência pública foi mantida. Por lá existe um sistema parecido com o nosso e um complementar. A maioria faz também o complementar. Mas como o nome já diz, é um complemento. Existe a segurança da previdência pública, financiada pelos atuais trabalhadores, que paga os aposentados. Esse modelo de previdência privada exclusiva, como quer o atual governo brasileiro só foi possível implementar no Chile por conta da ditadura de Pinochet nos anos setenta e oitenta. O Chile foi uma espécie de laboratório de maldades da Escola de Chicago, templo dos expoentes do neo-liberalismo.


Considerando ainda que a Reforma Trabalhista jogou milhões na informalidade, as contribuições à previdência diminuíram. E a tendência é piorar. O próprio governo admite que sua intenção é levar os trabalhadores ao máximo de informalidade. Dessa forma a previdência atual terá um rombo cada vez maior, porque os jovens deixarão de contribuir. Dentro de um tempo a tendência é quebrar, deixando os atuais contribuintes na mão. Assim, num futuro próximo teremos milhões de idosos sem aposentadoria, sem condição de trabalho, implorando por um prato de comida. É esse futuro que está sendo desenhado no Planalto.

 
 
 

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© 2020 - Rafael Meurer

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